O secretário de Estado americano, John Kerry, e o chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, negociaram intensamente nesta segunda-feira a fim de alcançarem até o fim de março um acordo histórico sobre o programa nuclear de Teerã.
As duas autoridades, de países que não têm relações diplomáticas há 35 anos, discutiram com suas delegações durante quase cinco horas em um palácio de Lausanne, na Suíça.
Kerry e Zarif, que nutrem uma certa proximidade alimentada por meses de contatos e negociações, conversaram a sós por 20 minutos, segundo um diplomata americano.
Depois de 12 anos de tensões internacionais e 18 meses de negociações entre a República Islâmica e as potências do grupo 5+1 (Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França, China e Alemanha), foi decidida a data de 31 de março como último prazo para um acordo político que garanta que o Irã não construirá uma bomba atômica.
A partir de então, deve ser alcançado um acordo completo que inclua os detalhes técnicos até 1º de julho.
Com o acordo, seriam suspensas as sanções internacionais impostas a Teerã pelo enriquecimento de urânio, um processo que pode resultar na fabricação da bomba atômica.
Zarif viajará ainda hoje para Bruxelas, onde se reunirá às 17h15 (12h15 no horário de Brasília) com a chefe da diplomacia europeia Federica Mogherini e, em seguida, com seus homólogos alemão, Frank Walter Steinmeier, francês, Laurent Fabius, e britânico, Philip Hammond, segundo um comunicado da UE.
Pouco antes desta reunião, Mogherini advertiu que as duas próximas semanas serão "fundamentais" a fim de "encontrar um terreno comum para um bom acordo". Por sua vez, Hammond considerou que apesar de as partes "terem se aproximado, resta um longo caminho" a percorrer.
Mais otimista, John Kerry expressou no domingo sua "esperança de que, nos próximos dias, isso seja possível", sem esconder "as diferenças significativas" entre o 5+1 e Teerã.
Domingo, Zarif também havia manifestado sua expectativa de "encontrar soluções nos próximos dias", a duas semanas para o fim do prazo.
Desacordos
Sobre o ritmo da suspensão das sanções, o Irã e o 5+1 discordam. Teerã quer a retirada de uma só vez de todas as medidas punitivas adotas nos últimos anos pela ONU, Estados Unidos e União Europeia, que o sufoca economicamente e isola diplomaticamente.
O presidente americano, Barack Obama, prometeu várias vezes que faria tudo, inclusive militarmente, para impedir o Irã de possuir um dia a bomba atômica.
Mas desde setembro de 2013 e uma conversa por telefone com seu colega iraniano, Hassan Rohani, tem privilegiado o caminho da diplomacia com Teerã e se reconciliou com o poder xiita, uma prioridade de sua política externa.
Para o desgosto de Israel, que se opõe a qualquer acordo e a uma possível reconciliação entre seu inimigo Irã e seu aliado americano.
Um possível avanço histórico na questão nuclear iraniana, no entanto, desencadeou protestos no Congresso americano, controlado pelos republicanos.
"Aparentemente, o governo está prestes a concluir um acordo muito ruim com um dos piores regimes do mundo, permitindo-lhe manter a sua infraestrutura nuclear", denunciou no domingo o líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell.
Diante da hostilidade dos legisladores americanos, a ala dura do Irã também se posicionou, com o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, apontando na semana passada uma "traição" de América.
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