A três dias do prazo, as discussões em torno de um acordo nuclear histórico com o Irã foram realizadas em meio a um clima de grande tensão nesta quinta-feira em Viena, com a Rússia já alertando para uma oportunidade desperdiçada.
O chefe da diplomacia americana, John Kerry, chegou à tarde em Viena em meio a este clima de tensões. Após descer do avião, Kerry se reuniu com o colega iraniano, Mohamad Javad Zarif, durante duas horas, informaram seus assessores.
"Na situação atual, se não houver um novo entendimento, será muito difícil alcançar um acordo", lamentou o negociador russo Serguei Riabkov, citado pela agência de notícias Ria Novosti.
As grandes potências do grupo "5+1" (China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha) suspeitam que o Irã tenha como objetivo produzir uma bomba atômica, sob o pretexto de um programa nuclear civil, algo que Teerã nega taxativamente. O acordo negociado entre os dois campos garantiria o caráter pacífico do programa nuclear iraniano, em troca de uma retirada das sanções contra esse país.
Após doze anos de polêmicas e de ameaças de guerra, seguidas de meses de discussões complicadas, as partes negociam desde terça-feira, pela última vez, na capital austríaca. Elas estabeleceram como prazo para que se chegue a uma solução o dia 24 de novembro, segunda-feira.
Mas, de acordo com Riabkov, "as discussões são realizadas em meio a um clima de forte tensão".
'Eles aumentaram o tom'
"O tempo passa", alertou, "e reuniões de todas as formas são realizadas sem parar. Talvez, para resolver os problemas que se apresentam nas discussões, é preciso que as delegações recebam instruções adicionais e levem em consideração o clima."
Enquanto a delegação iraniana mantém absoluto silêncio, o presidente do Parlamento, Ali Larijani, também manifestou alguma irritação de Teerã.
"Nós cooperamos permanentemente (mas) eles aumentaram o tom", declarou nesta quinta de manhã. "Esperamos que a outra parte tenha um comportamento racional nas negociações e não siga pelo mau errado."
Foi neste contexto sombrio que John Kerry, chefe da diplomacia americana, chegou no final do dia a Viena. Logo depois do pouso de seu avião, seus assessores anunciaram que Kerry se reunirá durante a noite com seu homólogo iraniano, Mohammad Javad Zarif.
Qualquer acordo daria fôlego à economia iraniana, principalmente abrindo mercado para a venda de petróleo. Também iria pavimentar o caminho para a normalização das relações entre o Irã e o Ocidente, tornando possível a cooperação em questões fundamentais para a ordem mundial, como as crises no Iraque e na Síria.
'Um novo capítulo'
Este seria "o início de um novo capítulo nas relações entre o Irã e a comunidade internacional", ressaltou de forma enfática na noite desta quinta Federica Mogherini, nova chefe da diplomacia europeia.
Um fracasso em respeitar o prazo de 24 de novembro aumentaria a incerteza em torno do futuro das discussões, que recebem fortes críticas dos falcões de ambos os campos.
"Uma chance como a que temos hoje é muito rara", advertiu Riabkov. "É um momento crucial, e deixá-lo passar seria um grave erro, com consequências muito pesadas."
O Irã, preocupado em obter um acordo que garanta o seu direito à energia nuclear para uso civil, jogou nesta quinta um balde de água fria naqueles que tinham a esperança de um compromisso rápido, afirmando que não está disposto a concessões em vários pontos, considerados essenciais pelas grandes potências em razão de sua possível dimensão militar.
Quem tem a chave de um acordo ?
Ali Akbar Salehi, chefe do programa nuclear iraniano, afirmou que seu país deseja multiplicar por 20 sua capacidade de enriquecimento de urânio, e que se recusa a reduzir seu estoque de urânio enriquecido. A República Islâmica também se nega a modificar mais seu reator nuclear de água pesada de Arak.
Enquanto as grandes potências exigem que o Irã dê prioridade a um esforço para reduzir sua capacidade, os negociadores iranianos parecem, por outro lado, se concentrar antes de tudo no ritmo de retirada das sanções em caso de acordo.
Segundo Serguei Riabkov, "o acordo depende da vontade e da capacidade dos Estados Unidos de retirar as sanções."
As negociações em Viena parecem estagnadas, enquanto seus críticos ganham espaço.
Israel alertou nesta quinta para um "mau acordo" com o Irã, ressaltando que mantém sobre a mesa "todas as opções" para se defender em caso de desenvolvimento das capacidades nucleares desse país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário